Fisiologia renal: Tudo o que você precisa saber

A fisiologia renal é de certo modo bem simples quanto à sua anatomia sendo composta por: Rins, ureteres, bexiga urinária e uretra.

O sistema renal tem funções claramente definidas por:

Anatomia renal

Anatomicamente os rins estão localizados na parede posterior do abdome e lembra a forma de um grão de feijão.

Quanto à sua anatomia, os rins apresentam em sua borda medial na região do hilo:

Visão macroscópica do rim direito. Fonte: Netter, 6ª ed. p, 403.

Seccionando o rim em um plano coronal, temos a seguinte disposição histológica em uma leitura latero-medial:

Fonte: Guyton e Hall, 13ª ed. p, 971.

As projeções das pirâmides renais formam as papilas renais e a reunião das papilas foram a pelve renal. Continuamente à pelve é formado o ureter.

Suprimento sanguíneo

Os rins consomem aproximadamente 22% do débito cardíaco, e esse suprimento de sangue arterial é garantido pela artéria que adentra pelo hilo, dividindo-se em:

Disposição histológica das artérias renais. Fonte: Guyton e Hall, 13ª ed. p, 972.

Néfron: o que é?

O néfron é a unidade fundamental do rim. Funcionalmente ele é responsável pela filtração direta do plasma sanguíneo. Histologicamente é composto por:

Histologia do néfron. Fonte: Guyton e Hall, 13ª ed. p, 973.

O nosso corpo tem algo em torno de 1 milhão de néfrons e infelizmente eles não são regeneráveis fisiologicamente. Lesões e envelhecimento são as principais causas de perda do número de néfrons.

O tamanho de um néfron varia de acordo com a sua disposição cortical ou medular. Os néfrons dispostos mais medularmente estão mais envolvidos na micção.

Os néfrons não apresentam o mesmo tamanho. Fonte: Guyton e Hall, 13ª ed. p, 974.

A micção: o que é?

Após o plasma ser extensamente filtrado, os produtos que não foram reaproveitados pelo corpo são excretados e encaminhados até a bexiga urinária. Esse órgão também faz parte da fisiologia renal.

De modo geral, ela funcional do enchimento da bexiga com distensão de suas paredes, que aciona o circuito neural reflexo da micção. Esse circuito tem controle tanto autônomo (sistema nervoso autônomo) como por centros neurais superiores.

Histologicamente a bexiga é uma víscera oca de músculo liso, cujas fibras musculares estão organizadas de maneira difusa (músculo detrusor). Na região posteroinferior vesical, está presente o trígono, cuja continuidade origina a uretra posterior.

A histologia da bexiga de mulheres e homens. Fonte: Guyton e Hall, 13ª ed. p, 980.

Quanto a sua divisão anatômica, a bexiga tem a região do corpo e do colo (também chamada de uretra posterior).

A inervação autônoma é composta por segmentos simpáticos de projeções em nível de L2, cuja principal ação é contração dos vasos sanguíneos.

A inervação parassimpática, ocorre entre os segmentos S1 e S3 e está intimamente relacionado ao ato da micção.

Anatomia e inervação neural da bexiga urinária. Fonte: Guyton e Hall, 13ª ed. p, 980.

O esfíncter externo tem constituição muscular esquelética e apresenta inervação parassimpática e algum controle voluntário (o que justificaria a decisão de ir urinar conscientemente).

Composição da urina

A composição da urina leva em conta a histofisiologia do néfron:

A histofisiologia do néfron está diretamente ligada à composição da urina. Fonte: Guyton e Hall, 13ª ed. p, 980.

Quanto ao conteúdo, a urina pode apresentar:

Hormônios e mediadores químicos também influenciam na filtração glomerular:

Mecanismos intrínsecos da fisiologia renal também estão atuando na autorregulação do néfron. A estrutura histológica denominada MÁCULA DENSA regula diretamente as células justaglomerulares e as implicam em produzir RENINA. O produto final do eixo da renina é a produção de aldosterona, a qual sabemos regular o equilíbrio do íon Na+. 

A estrutura da mácula densa estimulando diretamente as células justaglomerulares a produzir renina. Fonte:Guyton e Hall, 13ª ed. p,1023.

Mecanismos de transporte da reabsorção e secreção tubular

Os mecanismos de reabsorção e secreção tubular que estão implicado na fisiologia renal, obedecem aos tipos de transporte através da membrana celular , movimentos de solventes através da membrana e propriedades elétricas da membrana.

Os mecanismos de reabsorção e secreção tubular. Fonte:Guyton e Hall, 13ª ed. p, 1037 e 1034.

Reabsorção e secreção ao longo de diferentes porções do néfron

A reabsorção e secreção tubular ocorre de maneira diferente ao longo do néfron. Apesar da maioria dos íons envolvidos serem basicamente os mesmos, em muitos segmentos do néfron, nem todos são reabsorvidos e muitas vezes são até excretados.

 

Túbulos proximais

Reabsorvem algo em torno de 65% do volume filtrado contendo água, glicose, aminoácidos, íons k+, Na+, Cl- e HCO3-.

Excretam íons H+ , ácidos e bases orgânicas.

Eletrólitos absorvidos e secretados no túbulo proximal. Fonte: Guyton e Hall, 13ª ed. p, 1051.

 

Alça de Henle

Na porção descendente reabsorve água.

Na porção ascendente espessa reabsorve íons k+, Na+, Ca+2, Mg+2, Cl- e HCO3-. Excretam íons H+.

É o local de ação dos chamados diuréticos de alça, cujo efeito colateral pronunciado é a excreção acentuada de íons K+ podendo acarretar em arritmia cardíaca. Para fins de monitorização terapêutica, deve-se acompanhar os níveis plasmáticos do íon K+.

Eletrólitos absorvidos e secretados na alça de Henle. Fonte: Guyton e Hall, 13ª ed. p, 1051 e 1057.

 

Túbulo distal

Na porção inicial reabsorve íons Na+, Ca+2, Mg+2, Cl-.

Na porção final reabsorve água, k+, Na+, Cl- e HCO3-. Excretam íons H+ e K+.

É o local de ação de diuréticos tiazídicos, antagonistas da aldosterona e bloqueadores dos canais de Na+.  Seu efeito principal efeito colateral é a interferência em todos os processos fisiológicos dependentes de Na+. Para monitorização terapêutica, acompanhar os níveis séricos de Na+.

Porções do túbulo distal onde ocorrem a reabsorção e secreção de eletrólitos. Fonte: Guyton e Hall, 13ª ed. p, 1051 e 1057.

O controle hormonal da reabsorção tubular

Em resposta  aos níveis reduzidos dos íons Na+, o corpo estimula o hipotálamo a produzir  hormônios em cascata até a produção final pela glândula adrenal do mineralocordicoide aldosterona, que por sua vez estimula a reabsorção tubular e recompõe os níveis adequados de Na+ , aumento da volemia e promovendo também a depleção de K+.

Outro hormônio que implicado na reabsorção do íon Na+ é a angiotensina II. O produto final da ação desse hormônio é novamente a secreção de aldosterona, o que implica de novo na produção de Na+, aumento da volemia e depleção do íon K+.

Ação do hormônio angiotensina II. O resultado final é a reabsorção do íon Na+. Fonte: Guyton e Hall, 13ª ed. p, 1086.

 

Em episódios de sede ou desidratação, ocorre liberação hipotalâmica do hormônio antidiurético (vasopressina). Este hormônio atua principalmente nos túbulos distais, túbulos coletores e dutos coletores. Sua ação final é promover o translocamento de aquaporinas para a superfície luminal das células tubulares, promovendo então, a reabsorção de água.

Ação do hormônio antidiurético e translocamento de aquaporinas para a superfície luminal da membrana celular. A água se difunde através dessas porinas pelas células. Fonte: Guyton e Hall, 13ª ed. p,1084.

Baixos níveis de íons Ca+2 são corrigidos pela secreção do hormônio paratireoideano paratormônio. Ele atua na bomba Ca+2-ATPase do  túbulo proximal, estimulando a captação desse íon.

A secreção de paratormônio estimula a bomba Ca+2-ATPase a captar íons Ca+2 corrigindo os baixos níveis deste íon. Fonte: Guyton e Hall, 13ª ed. p, 1176.

Os íons bicarbonato que estão implicado de maneira importante no sistema de tamponamento ácido-base corporal, não são reabsorvidos de forma direta. Eles reagem quimicamente  no lúmen tubular com íons H+. O produto formado é o ácido carbônico, que rapidamente se decompõe em água e CO2. Esse CO2 é então reabsorvido e por um sistema enzimático envolvendo a enzima anidrase carbônica no interior celular, o íon bicarbonato é reconstituído.

A reabsorção de íons bicarbonato é feita sob a forma de CO2. Este íon é reconstituído no interior da célula a partir da enzima anidrase carbônica. Fonte: Guyton e Hall, 13ª ed. p, 1232.

Níveis elevados de íons Na+ também são corrigidos por outros hormônios como o  Peptídeo natriurético atrial, produzidos pelas células cardíacas em resposta ao aumento exacerbado dos íons Na+. A produção desse hormônio, inibe a reabsorção de Na+ nos túbulos renais.

O controle hormonal da secreção tubular

Quando é detectado elevação dos níveis do íon K+ , a aldosterona é produzida, estimulando a secreção desses íons que são depletados até patamares fisiológicos.

A ação da aldosterona e a depleção de íons K+. Fonte: Fonte: Fonte: Guyton e Hall, 13ª ed. p, 1159.

Outro elemento importante que tem a sua secreção aumentada é o íon NH4+. Muito comum em pessoas em acidose sob dietas proteicas restritivas ou pacientes diabéticos, este íon tem a sua excreção aumentada por mecanismos de transporte antiporte 

Na+-NH4+.

Secreção tubular de íons NH4+ no túbulo renal. Fonte: Fonte: Guyton e Hall, 13ª ed. p, 1159.

O papel renal na acidose

Tanto na acidose metabólica quanto respiratória, a quantidade de íons HCO3- está diminuída no líquido tubular renal e até mesmo no sangue. Dessa forma, os rins realizam:

Vale a pena destacar a importância dos íons NaHPO4- na neutralização da acidose em nível tubular.

O papel renal na alcalose

Na alcalose, seja metabólica ou respiratória, o plasma contém uma quantidade aumentada de íons HCO3- em relação a quantidade de íons H+ que está diminuída. Ao chegar no líquido tubular renal esses íons HCO3- em excesso, não tem íons H+ suficiente para reagirem. A absorção dos íons HCO3- não ocorre e estes são excretados na urina, corrigindo então o pH plasmático.

Avaliação da função renal

A função renal pode ser avaliada a partir da dosagem do metabólito creatinina. Este é um produto do metabolismo muscular que sofre depuração quase completa por filtração glomerular. Apesar de não ser um metabólito perfeito, fornece uma estimativa bastante aceitável para avaliar a filtração glomerular. Concentrações plasmáticas aumentadas de creatinina, podem indicar problemas com a função renal. O cálculo da creatinina pode ser feito através da equação de Cockroft-Gault.

Considerações finais

Distúrbios eletrolíticos de origem alimentar ou por medicamentos são corrigíveis pela administração intravenosa dos respectivos eletrólitos aberrantes. Se os distúrbios forem por falência renal, a alternativa imediata é a diálise renal. A longo prazo deve-se considerar um transplante.

Diálise renal para pacientes que sofrerem lesão renal grave com perda da função filtrante. Fonte:Guyton e Hall, 13ª ed. p, 1301.

De posse da fisiologia renal, pode-se empregar com facilidade drogas diuréticas, protocolos e fazer o acompanhamento terapêutico do paciente.

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